Setembro Amarelo: O suicídio também é uma questão de gênero

O Setembro Amarelo é uma campanha de mobilização pela Prevenção do Suicídio que entrou para o calendário do Brasil em 2013, abrindo espaço para várias ações junto à Associação Brasileira de Psiquiatria – ABP em parceria com o Conselho Federal de Medicina.

Embora o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio seja 10 de Setembro, várias campanhas de alerta são lançadas durante todo o mês. O suicídio é uma questão de saúde pública e vem avançando em números alarmantes em escala mundial. A última pesquisa realizada em 2019 pela Organização das Nações Unidas apresentou o registro de mais de 700 mil suicídios em todo o mundo, além das subnotificações que podem fechar em mais de 01 milhão de casos. Os registros brasileiros se aproximam de 14 mil por ano, concluindo que uma média 38 pessoas cometem suicídio por dia. 

O que mais assusta, é o fato de que o suicídio vem diminuindo gradativamente em várias partes do mundo e aumentando nas áreas de economia emergente como nos países das Américas, talvez pela mudança da dinâmica econômica, o que leva às pressões na sociedade em vários setores. Na sua quase totalidade, os casos estão relacionados à doenças mentais, que por mau direcionamento psiquiátrico, negligência familiar, ou a falta do diagnóstico correto do problema, leva a efetivação do ato de tirar própria vida. A maioria dos casos poderia ter sido evitado se esses pacientes não fossem negligenciados e tivessem diagnóstico correto, tratamento psiquiátrico e informações de qualidade. De acordo com dados da OMS, mais pessoa morrem de suicídio do que HIV, câncer de mama e outras doenças graves.

O suicídio é a quarta causa de morte depois de acidentes no trânsito, tuberculose e violência interpessoal, entre jovens de 15 a 29 anos. As análises apontam para um fenômeno complexo, e que afeta indivíduos de diferentes origens, sexos, culturas, classes sociais e idades. No Brasil, 12,6% para cada 100 mil homens em comparação com 5,4% por cada 100 mil mulheres, cometem suicídio. As taxas entre os homens são geralmente mais altas em países de alta renda (16,6% por 100 mil). Para as mulheres, as taxas de suicídio mais altas são encontradas em países de baixa-média renda (7,1% por 100 mil), segundo dados do blog SETEMBRO AMARELO.

Os indicadores brasileiros apontam para uma crescente entre 2010 a 2019. Nesse período, foram 23.929 suicídios femininos no Brasil, representando por dia uma média de 6,56 suicídios, com mortalidade de 2,72 óbitos a cada 100 mil mulheres.

Quando analisamos os indicadores de raça/cor observa-se maior frequência de suicídios em mulheres negras, nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, e maior proporção de óbitos em mulheres brancas no eixo sul/sudeste. A análise aponta para a relação com as desigualdades sociais refletidas de forma mais intensa em mulheres negras nas regiões mais pobres do país.

No período da pandemia, o número de suicídio entre mulheres também subiu, sendo explicado em muitos casos, por um contexto de violência doméstica e vulnerabilidade social e econômica. Esses pontos ainda merecem atenção, mesmo fora do momento de maior instabilidade que vivemos dentro de uma situação de pandemia. Mulheres que vivem as pressões do sustento familiar e não encontram margem de ação para o sustento e no mercado de trabalho, desenvolvem disfunções com mais frequência que podem desembocar no suicídio. É nesta última observância que a plataforma Ela Faz entende a necessidade de proporcionar o caminho para que mais e mais mulheres possam encontrar sua libertação de situações abusivas e de falta de condições materiais que possibilitem uma existência digna e de suas famílias. Acreditamos que esse é um dos caminhos, de muitos que precisam ser encontrados, inclusive sob a orientação dos setores médicos, em uma ação na sociedade, tomado sob a égide de políticas que possam tratar essa ferida em vários aspectos: no social, na oportunidade de inclusão de mulheres no mercado de trabalho e cuidado com a saúde mental.

Gilliam Iqbal

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